Na praia, sob os coqueiros, um grupo se movimenta com extrema delicadeza. Os corpos se dobram aos movimentos impostos pela professora. Na coleira, cães observam atentos seus donos. Seguem com os olhos aflitos o balé dos adoradores do sol. Nas mesas de cimento, o jogo corre solto. [...] Alguns casais preferem caminhar - não importa como - juntos. O fazem mão na mão. Nessa fotografia, o tempo é outro. Lento, ele perturba os ritmos da cidade mergulhada em velocidade. Fora dessa tela macia, a rapidez triunfou como uma forma de conquista do espírito e da civilização. Onde os pássaros outrora voavam, hoje domina o jato. Sobre monstruosos abismos marinhos, pairam engenhocas flutuantes. [...]
Uma fratura separa o mundo lento daquele acelerado.
Uma tribo de adoradores do sol habita o primeiro deles.
[...] Não rebolam nas revistas nem nas telas. Não precisam de bisturis nem de silicone. Têm outra beleza. Beleza imune a velocidade excessiva, lúdica e trágica. Cada ruga conta uma bela história de vida. São nossos velhos. Somos nós amanhã, herdeiros infelizmente de uma sociedade cujos valores mais importantes são a juventude e o progresso.[...] Em nossa louca corrida, o valor simbólico da idade só pode ajudar a envelhecer. [...] Caminhemos sem medo para a lentidão. Lentidão que como diz o filósofo, esposa a eternidade.
Texto: PRIORE, Mary Del. Uma história de singularidades.
In: ____. HISTÓRIAS DO COTIDIANO. São Paulo: Contexto, 2001. p. 126-127.
Imagem Disponível em:fadadacaixinhademusica.blogspot.com de autoria de Lili Gribouillon.
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